Companheiro Presidente Lula,
Na condição de ser humano, cidadão brasileiro, educador e petista, da mesma forma que você me dirigiu uma carta, poucos dias antes da vitória eleitoral que obtive nas urnas, animando a nossa militância e fortalecendo-nos para aquela disputa, quero lhe enviar essa mensagem e dialogar com você, neste momento em que assumo o cargo de Deputado Estadual em Sergipe, este estado que sempre lhe acolheu e elegeu.
Assim como eu, inúmeros outros parlamentares eleitos no pleito do ano passado tomam posse por todo Brasil e iniciam os seus mandatos, renovando a utopia democrática brasileira, apesar da crueldade desanimadora do duro momento político que atravessamos, onde a nossa inabalável esperança de dias melhores para milhões de cidadãs e cidadãos, é desafiada, cotidianamente pelo perfil antipopular do governo federal.
Se o golpe em curso neste país não tivesse afastado, de forma irregular, a Presidenta Dilma; se não tivesse transformado você, a maior liderança política da nação, em prisioneiro político; e não tivesse produzido o embuste como regra para a disputa eleitoral para a Presidência da República; todos nós sabemos que, neste momento, você seria o Presidente escolhido pelo povo brasileiro.
Pois bem, fui eleito Deputado Estadual com o voto de 26.961 sergipanos e gostaria de dividir com você, daqui da nossa querida Aracaju, a imensa alegria que carrego nesta tarde. Um sentimento que é inevitavelmente confrontado pela tristeza desses dias sombrios que vivemos. Dias permeados por profunda perplexidade diante da banalização do mal, da promoção do absurdo que mais uma vez assalta nosso país e que seu aprisionamento aí em Curitiba tão bem personifica.
O desacato aberto ao nosso frágil Estado Democrático de Direito; o desmonte das políticas públicas progressistas; o aviltamento das condições de vida da população; a entrega do patrimônio público e das riquezas nacionais; a supressão de direitos trabalhistas e sociais, dentre tantos aspectos dessa verdadeira tragédia histórica inaugurada com o golpe contra a presidenta Dilma representam um ataque à nossa própria sobrevivência como nação independente.
É um ataque sem trégua ao conjunto de contribuições que o nosso Partido dos Trabalhadores legou ao país, fruto de décadas de duro enfrentamento e de construção política. O projeto que conquistou respeitabilidade internacional e tirou o Brasil do Mapa da Fome, que elevou a qualidade de vida dos mais humildes, que abriu as universidades para todos, que levou saúde e atenção a quem sempre esteve abandonado pelo Estado é agora interditado pelo ódio e pela ignorância fascistas. A brutalidade, a mentira e a violência tentam se sobrepor aos sonhos de emancipação nos quais aprendemos a acreditar. E isso não pode ser desaprendido. Como você bem sabe, companheiro Lula, não se pode controlar indefinidamente os melhores sonhos de um povo.
É nesse cenário que assumo, hoje, o desafio de consolidar, na Assembleia Legislativa de Sergipe, um mandato petista, de esquerda, classista, popular e socialista, alinhado com as demandas sociais e com a defesa intransigente da democracia.
Saiba, companheiro, que a realidade conjuntural não nos atemoriza e não nos inibe. Prometo, em nome de todo o nosso legado, enfrentá-la sem tréguas!
A experiência acumulada por gerações de lutadores nos municia e nos encoraja. Lutadores como você, que não podem ser apagados da memória coletiva dos desvalidos, pois se transformam em “ideias” e não há nada mais perigoso para a ordem fascista do que as “ideias”. Lutadoras como Olga Benário, que dizia: “em momentos difíceis é preciso pensar em alguma coisa bonita.” E não há nada mais bonito que perseguir e lutar por nossas utopias humanísticas.
Nesta típica tarde sergipana, estamos novamente na praça que era outrora chamada “Praça dos Poderes”, símbolo da dominação oligárquica que ousamos desafiar com a eleição dos saudosos Marcelo Déda e Eduardo Dutra; elegendo legítimos e orgânicos representantes dos trabalhadores para ocupar os espaços de poder, como fizemos durante quatro mandatos consecutivos com a companheira professora Ana Lúcia, na Assembleia Legislativa, e quando tive a honra de ocupar a Câmara Federal, durante o seu segundo mandato de Presidente da República.
Aqui nesta Praça construímos trincheiras em defesa da redemocratização deste país, quando eu ainda era muito jovem. Aqui perfilamos nossos guerreiros para enfrentar tantas lutas em defesa dos trabalhadores. Nesta praça lhe recebemos para disputar, junto com você, eleições presidenciais, até que obtivéssemos a vitória. Aqui estivemos para defender a presidenta Dilma contra o golpe. Aqui estivemos para tentar impedir sua prisão. Aqui nos perfilamos para fazer frente ao fascismo. Aqui estamos, agora, com nossas bandeiras vermelhas, celebrando uma vitória popular que prometo honrar com o meu mais alto empenho.
Companheiro Lula, aqui estamos todas e todos, mulheres e homens, trabalhadores, camponeses, professores, jovens, negros, LGBTs, quilombolas, estudantes, sob um céu azul intenso que nos brinda com a certeza inquebrantável de que construiremos, com a nossa própria luta, um país e um mundo melhores e mais humanos.
Não aceitaremos nada menos que a liberdade e a felicidade!
Aqui, nesta praça, ninguém vai soltar a mão de ninguém, enquanto gritamos, em uníssono: LULA LIVRE!
Iran Barbosa
Deputado Estadual – PT
Aracaju (SE), 1° de fevereiro de 2019.