Por Fernanda Queiroz
Hierarquia e disciplina para acabar com a violência escolar. Esse é o principal resultado apontado por gestores de escolas cívico-militares. Na prática, as escolas “militarizadas”, como são conhecidas, tem suas administrações escolares assumidas pelos militares, enquanto a parte pedagógica (professores e métodos de ensino) segue sob a alçada da Secretaria de Educação. Entretanto, os dados reais são controversos.
O doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, Rudá Ricci, afirma que a introdução de militares nas escolas não é uma questão de desvio funcional, já que são servidores públicos, mas sim da falta de especialização e capacidade funcional para responder aos desafios do ensino aprendizagem.
“Há quem argumente que os educadores brasileiros fracassam no ensino público. Ora, tal argumento caberia em relação ao fracasso das forças militares em manter a ordem e conter a violência urbana e os grupos de narcotráfico que comandam territórios e até mesmo presídio. Um argumento fantasioso, portanto, já que não se trata efetivamente de fracasso ou sucesso, mas de condições de trabalho e estratégias nacionais para a segurança e para a educação do país”, argumenta o diretor.
Para discutir e apontar os caminhos da educação civil no Brasil, a Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe (Alese) receberá o Dr. Rudá Ricci para apresentar a palestra “Os caminhos da educação civil frente ao modelo militar do governo federal”, que institui até 2023 mais 216 escolas cívico-militares em todo o País. A audiência pública foi organizada pelo deputado Iran Barbosa (PT/SE).
Rudá Ricci é um dos membros da comissão organizadora no Brasil das articulações mundiais lançadas pelo Papa Francisco, com foco em uma nova economia e uma nova educação para o mundo.
Sociólogo, mestre e doutor em Ciência Sociais pela Unicamp, Ricci foi membro da equipe de Paulo Freire, quando este retornou do exílio. É consultor nacional e internacional em diversos programas de governos, sindicatos e organizações internacionais, como o Programa de Desenvolvimento da ONU e do Banco Mundial.
Sergipe é um entre os 11 Estados que não aderiram ao programa do governo federal de estimular a criação de escolas cívico-militares nos estados e municípios. A implantação da gestão compartilhada entre educadores e militares também será administrada pelo Ministério da Defesa, que utilizará reservistas das Forças Armadas para trabalhar nas escolas que aderirem ao programa. Apenas o Ceará, na região nordeste, aceitou o modelo militar.
A solução para diminuir a evasão escolar, melhorar o desempenho estudantil e interromper o ciclo de violência nas escolas, é criar experiências educacionais que pense a vida da criança até a sua fase adulta. “Temos que apontar para a criação de programas que tratem integralmente do pré-natal até o primeiro emprego, articulando dados que vinculem o desenvolvimento das crianças e adolescentes, as condições de vida, o sistema de proteção e garantia de sua estabilidade social e os estímulos educacionais que recebem nas escolas, nas suas famílias e comunidades”, aponta Ricci.
Serviço:
O quê: Audiência Pública “Os caminhos da educação civil frente ao modelo militar do governo federal”, com Dr. Rudá Ricci
Data: 15 de outubro de 2019
Horário: 14h, às 17h
Local: Plenário da Alese (Praça Fausto Cardoso – Centro, Aracaju)
Para contatos e informações: 79 996 274 606