Por iniciativa da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos, a Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe (Alese) homenageou, na manhã desta quinta-feira, 5, lutadores e lutadoras do povo negro pela contribuição militante, intelectual, acadêmica, política e social, em defesa da igualdade racial, com a entrega das Comendas Jacinta Clotilde do Amor Divino e Abdias do Nascimento.
Fazendo as saudações em nome do Parlamento sergipano, Iran Barbosa (PT) discursou homenageando os agraciados e ressaltando a história de vida daqueles que emprestam o seu nome às honrarias.
“Os nomes Jacinta Clotilde do Amor Divino e Abdias do Nascimento prestam tributo à trajetória de luta de homens e mulheres que, em nossa terra, dedicaram-se e dedicam-se, com seu trabalho cotidiano à construção de um novo paradigma para o estabelecimento das relações sociais, ainda ampla e profundamente assentadas na violência da estratificação racial”, salientou.
“A barbárie do racismo, pedra fundamental da iniquidade e da injustiça social que se perpetuaram na constituição de nosso país, frauda a memória histórica, contamina a formatação da vida nacional e interdita qualquer possibilidade de construção republicana e democrática”, pontuou.
Um Minuto de Silêncio
Ao iniciar o discurso de homenagem, Iran Barbosa, em memória dos sonhos interrompidos de nove jovens, no último domingo, que foram encurralados, espancados e barbaramente mortos, pelo Estado, em uma comunidade majoritariamente negra, em São Paulo, como também de tantos outras vidas negras silenciadas a cada instante, pediu um minuto de silêncio.
“Hoje, nesta Casa Legislativa, entre companheiras e companheiros a quem estendemos o reconhecimento pelo empenho em quebrar a invisibilidade do massacre de vidas negras, não poderíamos deixar de lembrar o nome e o sobrenome de nove jovens, assim como lembrar também de outras vidas que são silenciadas. Em respeito à memória de todos, peço um minuto de silêncio”, falou.
Homenageados
Iran lembrou que a Comenda Jacinta Clotilde do Amor Divino foi instituída em 2018, por iniciativa da então deputada Ana Lúcia, e é destinada a reconhecer personalidades femininas que tenham oferecido contribuição relevante à proteção e à promoção da cultura afro-brasileira. Já a Comenda Abdias do Nascimento foi instituída em 2015, por iniciativa também da então deputada Ana Lúcia, com a finalidade de homenagear e de reconhecer personalidades que tenham oferecido contribuição relevante à proteção e à promoção da cultura afro-brasileira.
A patronesse Jacinta Clotilde do Amor Divino nasceu escrava, no município de Estância, em 1811, e simboliza a capacidade de superar as limitações impostas pela estrutura de uma sociedade escravocrata.
“A sua expressão afirmativa no enfrentamento do racismo está bem representada na honraria concedida às nossas homenageadas Valdilene, Clarissa, Iza Jaqueline, Verônica, Edinéia, Lígia, Silvânia, Sônia, Thereza Cristina e à saudosa professora Zizinha Guimarães”, manifestou.
O patrono Abdias do Nascimento, ativista social, parlamentar, professor, artista plástico, dramaturgo, escritor, entre tantos talentos, nasceu em 1914, na cidade paulista de Franca, e faleceu em 2011. É um símbolo de vigor intelectual e da resistência negra.
“Sua trajetória simboliza e honra o trabalho desenvolvido por nossos agraciados: Alexis, João Bosco, Carlos Augusto, Paulo Victor, Robson Anselmo e o legado dos inestimáveis Cícero dos Santos e Djenal Nobre”, disse.
“O nosso encontro, nesta homenagem, renova as melhores esperanças de transformação radical da realidade, ao representar um tributo do povo sergipano à luta pela liberdade, contra a discriminação e o racismo”, finalizou Iran Barbosa.