D. João lamenta discursos negacionistas na pandemia

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Por Aldaci de Souza – Alese

O arcebispo metropolitano de Aracaju, D. João José Costa atendeu ao convite do deputado Iran Barbosa (PT) e fez uma reflexão durante sessão especial da Assembleia Legislativa de Sergipe nesta quinta-feira, 29, destacando a Campanha da Fraternidade 2021, lançada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Na oportunidade, ele lamentou os discursos negacionistas sobre a pandemia do novo coronavírus, criticou a negação da Ciência, as desigualdes, o racismo e a violência contra as mulheres, os negros, os indígenas e os grupos LGBTs.

Tema é voltado para o diálogo, a paz e a unidade

O tema da campanha este ano é: “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema é “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”, cujo objetivo principal é promover o diálogo visando superar as polarizações e as violências que marcam a comunidade mundial. O lema da campanha é: “Cristo é a nossa paz. O que era dividido, fez-se uma unidade”.

Agredecendo ao convite do deputado Iran Barbosa pela oportunidade de expressar a palavra sobre a Campanha da Fraternidade, D. João iniciou a apresentação afirmando que embora as pessoas sejam diferentes, é importante que vivam na comunhão e na unidade entre todos.

“A Campanha da Fraternidade é realizada há 59 anos  no Brasil com o objetivo central de convidar a todos os fiéis e as pessoas de boa vontade à vivência das primeiras comunidades cristãs. Particularmente nessas duas décadas inspiradas no impulso  renovador do Concílio Vaticano, essa campanha ecumênica está na 5ª edição e reúne algumas denominações cristãs que formam o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), convidando a população de fé a pensar, avaliar e identificar caminhos para as polarizações e das violências que marcam o mundo atual, mediante o diálogo amoroso e o testemunho da unidade na diversidade inspirado no amor de Cristo”, ressalta.

D. João acrescentou que a Igreja não pode ser diferente frente à dimensão humana e humanizadora da vida social. “Sua missão consiste em fecundar e fermentar a sociedade com o evangelho e a Campanha da Fraternidade chama a atenção para uma questão que aflige a sociedade, promovendo reflexões e ações colaborativas. Nessas últimas décadas refletimos temáticas atuais sobre a dignidade humana, a exemplo das exclusões, solidariedade, economia, vida e casa comum. A campanha atual busca a necessidade do diálogo para que possa haver a verdadeira comunicação com um encontro para as relações mais amorosas, denunciando a violência e a destruição sócio-ambiental”, informa.

Desigualdades

D. João José destacou as desigualdades sociais

O arcebispo destacou que o tema deste ano conduz as pessoas à superação das desigualdades. “Animam o engajamento de ações concretas de amor ao próximo; promovem a conversão para a cultura do amor como forma de superar a cultura do ódio; fortalece a convivência ecumênica e inter-religiosa, estimula o diálogo em meio à crença, ideologias e concepções em um mundo cada vez mais plural e por fim: compartilha experiências de diálogo e convívio fraternos”, diz citando os discípulos e Emaús, que saíram impactados de Jerusalém e dialogaram com Jesus.

D. João lamentou o negacionismo de algumas pessoas sobre a realidade da pandemia do novo coronavírus. “Estamos vendo crises e sofrimentos; discursos negacionistas sobre a realidade da pandemia e à fatalidade da Covid-19, são recorrentes, assim como a negação da Ciência e do papel da Organização das Nações Unidas e da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a pandemia escancarou a desigualdades e a estratificação racial, econômica e social; o retorno ao mapa da fome, ao desemprego massivo, ao aumento da população de rua, à cultura de violência contra as mulheres, pessoas negras, indígenas e pessoas LGBTs, expostas pela pandemia. A violência aumentou nas casas e entre março e abril de 2020, os casos de feminicídio aumentaram 5% em relação ao mesmo período de 2019”, elenca lamentando a cultura da indiferença e da falta de empatia, que geram sofrimentos.

A palestra atendeu ao requerimento do deputado Iran Barbosa

No discurso, o arcebispo de Aracaju disse ainda que a Campanha da Fraternidade 2021 convida a todos para fazer uma reflexão sobre os acontecimentos mais recentes que marcaram a vida da história.

“A sociedade brasileira vive momentos difíceis por causa dos muitos muros construídos: do racismo, das desigualdades econômicas, da dificuldade de conviver com opiniões diferentes, de desrespeito e ataques às instituições. O seguimento de Jesus exige de todos nós, discernimento diante das mais diversas dúvidas, crises e contradições. Apesar das novas leis que buscam garantir que os direitos humanos incluam os grupos sociais, ainda permanecem as estruturas racistas e excludentes.  A manutenção desse sistema é nutrida com discursos de meritrocacia, com tecnologia de propriedade e a promessa de que todas as pessoas por mais pobres que sejam, poderão com muito esforço, fazer parte da camada mais rica da sociedade. Precisamos nos reconhecer em Efésio em proclamar a paz e a fé em Cristo para contribuirmos para a derrubada dos muros das divisões”, enfatiza exibindo um vídeo sobre a campanha com a fala do Papa Francisco.

Parlamentares

O presidente da Assembleia Legislativa de Sergipel, Luciano Bispo (MDB) deu as boas vindas ao arcebispo D. João José e ao diretor espiritual da equipe da campanhas da Paróquia Nossa Senhora do Monte Serrat, padre Adriano Andrade dos Santos. “Sejam muito bem-vindos à Casa do Povo para tratar de um tema tão importante escolhido para a Campanha da Fraternidade num momento tão difícil para todos nós”, afirmou.

O deputado Iran Barbosa agradeceu a atenção do arcebispo ao comparecer ao plenário da Alese para tratar do tema da Campanha da Fraternidade e o parabenizou por fazer uma contextualização muito bem feita. “Parabenizo D. João pela escolha da abordagem que fez tão profundamente marcante. Me solidarizo à CNBB; sei que a escolha do tema feita pelo CONIC e pela CNBB foi alvo de muito ataque, desproporcional e descabido. O papel que juramos à nossa Constituição é o papel de velar pelo caráter de não fazermos proselitismo dentro da nossa atuação política. O estado brasileiro é láico e é velando pela laicidade que mostramos a necessidade de acolhermos todas as religiões que cada um queira exercer e a mensagem trazida aqui hoje é de convivência fraterna com as diferenças”, entende.

Fotos: Jadilson Simões

Matéria completa no site da Alese.