Centenário de Dom José Brandão de Castro é celebrado na Assembleia Legislativa

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Sobrinho de Dom José Brandão (primeiro à dir.) recebeu Certificado em alusão ao Centenário

Na segunda-feira, dia 20, em uma tarde de muitas lembranças e fortes emoções, a Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) realizou Sessão Especial, por iniciativa do deputado estadual Iran Barbosa (PT), em comemoração ao Centenário de nascimento do Bispo Dom José Brandão de Castro. Plenário e galerias foram tomados por parlamentares, autoridades políticas e eclesiais, lideranças sindicais, populares e religiosas, amigos, familiares e representantes do povo, em especial, do Baixo São Francisco – região onde o religioso mineiro atuou fortemente –, comprovando a grandeza e importância histórica de Dom Brandão.

Além de Iran Barbosa, autor da propositura, fizeram parte da mesa o presidente da Casa, Luciano Bispo (MDB); o sobrinho do homenageado, Antônio de Miranda Castro, que veio de Brasília especialmente para a homenagem; o ex-governador Jackson Barreto (MDB); o desembargador Edson Ulisses de Melo, representando o Poder Judiciário e a Academia Sergipana de Letras; o pároco do povoado de São Miguel, em Propriá, Padre Isaías Nascimento; o Padre Jeferson Santos Pinheiro, representando o Arcebispo de Aracaju, Dom Frei João José Costa; e o atual prefeito de Propriá, Yokanaan Santana.

No hall de entrada da Assembleia Legislativa, o público que compareceu pode conferir uma bela exposição, em quinze banners, com a vida e a obra do homenageado, produzidos pelo mandato de Iran. Essa exposição, de acordo com o parlamentar, irá percorrer as cidades sergipanas onde Dom Brandão atuou como bispo e missionário, a começar por Propriá.

No início da sessão, em nome do Poder Legislativo do Estado de Sergipe, o deputado Iran Barbosa entregou ao sobrinho de Dom Brandão, Antônio Miranda de Castro, e ao Padre Isaías, o Certificado do “Centenário Dom José Brandão de Castro”.

Em sua fala, Iran chamou a atenção para o grande número se pessoas presentes à Sessão Especial, ressaltando, com isso, o quanto a figura do religioso Redentorista ainda está presente e forte no estado.

“A presença de tantas pessoas aqui, de vários segmentos e de vários cantos de Sergipe, demonstra o quanto Dom Brandão, mesmo depois de 20 anos de sua partida, tem influência e como ele ainda é acolhido entre nós. Muito importante esta Casa Legislativa não ter deixado passar em branco o centenário deste homem, que tem um marca na história eclesiástica e social do nosso país e do nosso estado”, disse.

O parlamentar petista enfatizou, ainda, que o legado deixado por Dom Brandão cobra dos homens públicos, dos gestores e dos políticos de Sergipe posições corajosas e consequentes no atendimento aos setores mais pobres e desassistidos da população.

“Ele deixa em nós essa necessidade de ter o olhar voltado especialmente para as camadas populares que, ao longo da história do nosso país, vêm sendo relegadas à condição de uma cidadania de segunda classe. Dom José Brandão de Castro soube como ninguém transformar o seu fazer missionário em luta permanente por mudanças sociais; ele fez uma opção muito evidente por aqueles que precisavam mais fortemente da sua ação e do fazer pastoral, e nos deixou muitas lições”, lembrou.

“Ao homenagear Dom José Brandão de Castro no seu centenário de nascimento, quero estender essas homenagens aos homens e mulheres, como a querida Irmã Francisca, que aqui se encontra, como tantos outros que aqui estão, e que viram nele um exemplo e continuam insistindo na possibilidade de mudar este mundo em que vivemos, incluindo e acolhendo as pessoas, ouvindo e sendo a voz daqueles que não podem falar. Homenagear Dom Brandão é homenagear homens e mulheres que, cotidianamente, insistem no sonho e na utopia da luta por justiça”, afirmou Iran Barbosa.

Opção pelos pobres

Visivelmente emocionado, o sobrinho de Dom José Brandão, Antônio de Miranda Castro, em nome de toda a família do religioso, disse que a homenagem prestada pelo deputado Iran Barbosa faz justiça ao trabalho social que seu tio missionário desenvolveu, especialmente entre os mais pobres da Região do Baixo São Francisco.

“Nossa família se sente muito honrada com a homenagem e, para nós, é momento de colher os louros pela história de luta de Dom José Brandão, que veio de uma família humilde, mas que sempre fez a opção pelos pobres. Só temos que agradecer por esse reconhecimento a quem dedicou grande parte da sua vida ao povo de Sergipe”, disse.

Pároco do povoado de São Miguel, em Propriá, e biógrafo de Dom Brandão, o Padre Isaías Nascimento fez um resgate da vida e da luta do missionário mineiro em terras sergipanas, nos anos 60 e 70, em pleno período da Ditadura Militar. Por sua opção pelos desassistidos e pelos sem-terra e sem-teto de Propriá e do Baixo São Francisco, Isaías lembrou que o religioso era muito visado pelos coronéis da região e pelo regime de exceção instalado, sendo tachado de “Bispo vermelho” e de “comunista”.

“Quando mais a gente olha para a história de Dom José Brandão, mais vemos nele a figura do Papa Francisco. Ele lutou muito pelas desapropriações de terra no Baixo São Francisco, na década de 60. Esta celebração é um divisor de águas, pelo amor dele aos pobres, por sua linha libertária, de alguém que emprestou o seu poder dentro da Igreja na defesa dos oprimidos da região, ajudando na formação e na inclusão social dessa gente, que antes não tinha acesso a nada. Por isso, era visto muitas vezes como ‘Bispo vermelho’ ou ‘Bispo comunista’, mas o que ele fez foi simplesmente atualizar o Evangelho, trazendo a pregação da igualdade e da justiça para a prática. Ele foi um referencial para o movimento popular e de luta por direitos e por terra”, lembrou.

A missionária belga Mathilda Antoniette Christine Hendriex, a Irmã Francisca, que chegou em 1968 no Brasil, para atuar na região de Japaratuba e, depois, do Baixo São Francisco, e conheceu e conviveu por um longo período com Dom Brandão, lembrou da sua atuação marcante nas lutas por reforma agrária, em favor dos posseiros e das famílias sem-terra da região.

“Ele nos acolheu e nos ajudou muito. Todos que conheceram Dom Brandão, especialmente o povo mais humilde, estão muito felizes com essa homenagem. Quero agradecer a esta Casa e ao deputado Iran Barbosa por essa celebração; especialmente, temos que agradecer ao povo que soube honrar o legado de Dom Brandão e amar, amar as pessoas acima de tudo”, enfatizou a missionária belgo-sergipana.

Sobre o homenageado

Dom José Brandão de Castro nasceu em Rio Espera (MG), em 24/05/1919. estudou no Seminário Menor Nossa Senhora da Assunção, em Mariana (MG), de 1932 a 1935. Em seguida, transferiu-se para o Seminário São Clemente, da Ordem Redentorista, em Congonhas do Campo (MG), onde concluiu os estudos médios, em 1937. Cursou Filosofia e Teologia no Instituto Redentorista de Estudos Superiores Affonsinianum, em São Paulo (SP). Ordenou-se sacerdote redentorista em 6 de janeiro de 1944, tendo atuado em Coronel Fabriciano (MG) e, em seguida, na Igreja de São José, em Belo Horizonte (MG). Foi redator e diretor da revista São Geraldo, de Curvelo (MG). Em 25 de junho de 1960, foi nomeado Bispo da recém-criada Diocese de Propriá (SE), onde permaneceu durante 27 anos, até aposentar-se por problemas de saúde. Participou do Concílio Vaticano II, de 1962 a 1965. Em Propriá, fundou a Escola Técnica de Contabilidade (1967). Participou da Comissão Pastoral da Terra, nos estados da Bahia e de Sergipe. Notabilizou-se, a partir dos anos 70, por sua atuação em conflitos sociais no Estado de Sergipe, especificamente em defesa dos trabalhadores rurais da Fazenda Betume (1974) e Santana dos Frades (1979). Pertenceu à Academia Sergipana de Letras. Faleceu em 25 de dezembro de 1999, em Curvelo (MG).