Iran repudia fala de ministro da Educação e defende democratização do acesso às universidades

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Iran também criticou os cortes do governo nos recursos para a educação [Foto: Jaílson Simões/Alese]

Na manhã desta quinta-feira, 12, na Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), o deputado Iran Barbosa, do PT, repudiou veementemente os recorrentes discursos de ministros da Educação do atual governo que defendem uma política elitista e excludente de acesso às universidades.

“A sociedade não aceita que ministros de Estado, pagos com recursos públicos, usem dos seus cargos para defender um modelo de universidade para poucos”, disse o parlamentar, referindo-se a uma entrevista do atual ministro da Educação, Milton Ribeiro, na qual defende, textualmente, que a universidade deve ser para poucos. Iran lembrou, também, que essa é uma concepção excludente de universidade presente na forma de administrar do atual governo, já que, em 2019, o então titular do MEC, Ricardo Vélez, afirmou que as universidades devem ficar reservadas para uma elite intelectual.

A reação de inconformidade do deputado estadual, que também é professor, ocorreu por ocasião da presença do professor doutor Valter Joviniano de Santana Filho, reitor da Universidade Federal de Sergipe, na Alese, que tratou, a convite do presidente da Casa, Deputado Luciano Bispo (MDB), no Grande Expediente da Sessão Ordinária, da importância das atividades de ensino, pesquisa e extensão da UFS para o desenvolvimento de Sergipe.

“Viemos prestar contas a esta Casa e também à sociedade sobre os nossos propósitos e ações, sobre as possibilidades de interação da nossa instituição com os sergipanos e com o desenvolvimento de Sergipe”, explicou o reitor, destacando que a universidade tem uma função primordial, baseada nos pilares do ensino, da pesquisa e da extensão, de formar quadros que atuam com muita relevância na sociedade, fomentando o desenvolvimento e transformação social.

Entre as inúmeras informações e dados elencados sobre a única universidade pública sergipana, nos seis campis espalhados pelo estado, e a sua atuação nas várias áreas de alcance dos seus cursos, Joviniano destacou a avaliação do MEC que apontou que dos 32 cursos ofertados pela UFS, 94% foram classificados entre bom e excelente, sendo que dez atingiram a nota máxima; além do que, internacionalmente, no ranking da Times Higher Education, ela aparece entre as oito melhores universidades do Brasil em 2021.

“Isso mostra a elevada qualidade dos serviços prestados por nossa Universidade que precisa ser reconhecida, apoiada e amplificada para que possamos, cada vez mais, fomentar o desenvolvimento de Sergipe e do país”, enfatizou o reitor da UFS, agradecendo pela oportunidade de expor o panorama da instituição na Alese.

Reitor da UFS dialogou com os deputados no plenário da Alese [Foto: Jadílson Simões/Alese]
O deputado Iran Barbosa, do PT, que tem formação acadêmica na Universidade Federal de Sergipe, nos cursos de Licenciatura em História e Bacharelado em Direito, parabenizou os professores, funcionários e alunos da UFS pela história, pelos números e pelos destaques obtidos pela instituição. Iran lembrou que a UFS é a grande e única porta de acesso pública para quem deseja formação superior em Sergipe, e que ela tem cumprido um papel de destaque e referência no desenvolvimento do estado.

“Nós, sergipanos, somos muito orgulhosos da Universidade Federal de Sergipe, e tributamos a todos os seus profissionais, entre professores e funcionários técnico-administrativos, um pleito de gratidão muito grande, porque, sem a UFS, a nossa história teria sido outra e, hoje, estaríamos atrasados em diversos campos”, disse.

A despeito do grande destaque e prestígio que a UFS goza nacional e internacionalmente, o deputado Iran Barbosa lamentou a atual política do governo federal de ataque às universidades públicas e de desrespeito aos mecanismos democráticos de funcionamento dessas instituições de ensino superior.

“Infelizmente, o que temos assistido é a uma série de ataques e atropelos aos ritos democráticos dentro das universidades públicas brasileiras. E quando se atropela a democracia, a sociedade não aceita, não vai apoiar. Por exemplo, em cerca de 40 por cento dos casos, o governo federal tem desconsiderado as indicações nas listas tríplices para a nomeação de reitores. Isso fere a autonomia universitária, princípio ao qual a sociedade atribui grande valor”, externou o petista.

“Posições como as do ministro da Educação, caem como uma bomba na cabeça de pessoas que, como eu, filho de um cobrador de ônibus, não tinha outro caminho para ingressar numa universidade senão pela UFS. Temos que repudiar, de forma veemente, esses discursos elitistas e excludentes, ainda mais vindo de um ministro da Educação de um país com o perfil como o do Brasil, onde os dados da OCDE mostram que as universidades ainda são para poucos. No Brasil, ainda estamos distantes da democratização do acesso às universidades. Os dados da OCDE mostram que apenas 21% dos brasileiros e brasileiras, entre 25 e 34 anos, têm ensino superior; quando a média dos países da OCDE é de 44%. A nossa é uma das piores posições nesse ranking. Tivemos avanços. Os dados apresentados mostram. Mas, eles são fruto de uma política anterior, pautada por uma concepção de que todos devem ter oportunidade de acesso à formação em níveis mais elevados. Essa visão excludente expressa pelos ministros da Educação deste governo avesso ao saber não tem apoio social e atrasa o país”, afirmou Iran.

O petista também aproveitou para lamentar os números decrescentes dos investimentos do governo federal em Educação, tanto no ensino superior, o que repercute negativamente nas universidades, como na Educação Básica.

“Temos que lamentar tantos cortes nos recursos para a Educação, porque não se faz política pública sem recursos. É importante lembrar, também, que o MEC terminou o ano de 2020 contabilizando o menor gasto em Educação Básica na década e isso se fará sentir nos dados futuros, inclusive dentro das universidades. Os dados que são apresentados hoje pelo reitor como dignos de comemoração são fruto de uma política de governos anteriores que adotaram medidas voltadas para ampliação do acesso e do investimento em Educação. A política praticada hoje trará retrocessos e, talvez, os reitores que vierem a esta Casa num futuro próximo, já não tenham dados tão promissores a apresentar, pois essa política de desmonte e exclusão não combina com as necessidades do nosso povo e com o desenvolvimento que queremos para a Nação”, disse Iran Barbosa.